segunda-feira, 14 de abril de 2008

CRASH, BOOM BANG!

Quando eu falo que minha vida parece seriado, não é brincadeira. Hoje vou contar pra vocês o season finale da temporada 2007/02, que não contei na época porque estava muito abalado. Hoje, acho que já estou preparado para narrar.

Dezessete de dezembro. A ansiedade para saber no que daria minha relação com o Jorge persistia, mesmo após dias sem nos falarmos. Eu desconfiava de que ele não queria mais nada, mas evitei tirar conclusões por conta própria, queria ouvir dele mesmo uma resposta definitiva. E aquele poderia ser o grande dia, o dia da cerimônia de encerramento do semestre letivo, com premiações para alunos, professores e funcionários. Ele certamente iria, apesar de já ter se formado, pois adorava essas eventualidades.
Quando cheguei, todo arrumado e perfumado, fui ao encontro da minha amiga Bruna e logo percebi que o Felipe já me observava de longe. Fiquei constrangido, sem saber como agir diante de sua pouca discrição, mas adorando. E não era nisso que eu devia me concentrar. Em seguida, chegou meu amigo Paulo Henrique e ficamos conversando. Contei sobre o que vinha acontecendo entre Xorxe e eu, até que o próprio chegou. Foi direto falar com seus amiguinhos popstars com os quais eu não simpatizo, mas depois pediu licença e fez questão de vir falar comigo. Jogou um olho torto pro Paulo Henrique que eu adorei, depois cumprimentou a Bruna e eu e ficamos ali, sem assunto e sem saber o que falar. Fui fazendo perguntas bobas sobre seu trabalho, expectativas para agora que ele estava se formando, mas nada soava muito natural. E ele não parecia preocupado. E eu não sabia como interpretar aquele descaso.
Anunciaram o início do evento e entramos no auditório, mas ele foi se sentar com os popstars, longe de nós. A cerimônia de premiação foi xoxa, a única coisa legal foi que meu colega Weber ganhou o prêmio de melhor trabalho do sexto período, mas de resto os amiguenhos do Xorxe tiveram destaque a noite toda, uó.
Quando acabou, não falei com ele e fui indo embora, angustiado, sem saber se ele queria carona (eu lhe dava carona sempre), mas então parei e decidi não desistir assim. Voltei lá, mas não o encontrei, então fui embora mesmo. Quem sabe eu não o encontraria andando no caminho?
Fui dirigindo super devagar, olhando pros lados, mas nada. Cheguei na porta do prédio dele (que fica no meu caminho) e resolvi estacionar. A qualquer hora ele chegaria, não? Aí eu o chamaria para conversar. Então fiquei esperando. Começou a demorar, então coloquei o meu CD da trilha sonora de One Tree Hill para ouvir. Mais de uma hora depois, quando ouvia a 15ª música, nada dele chegar, então resolvi mandar uma mensagem pelo celular: "Não sei o que acontece quando nos encontramos (me referindo à falta de assunto), mas eu ainda penso em você (pra dizer que eu ainda me sentia como antes, quando nós dissemos um ao outro que pensávamos no outro o tempo todo)". O CD acabou, o tempo passou e ele nem respondeu. Desisti. Resolvi ir embora arrasado. Mas troquei o CD antes, coloquei uma coletânea que gravei com The Cure, The Smiths e The Bolshoi. Aliás, escolhi a música: Love song, do Cure. Conhecem? É linda.
Então fui dirigindo ao som de "whenever I'm alone with you/ you make me feel like I am home again" e aqueles efeitos sonoros.


Eu subia a Rua A prestes a fazer a conversão para pegar a Rua B. O sinal estava verde para mim e vermelho para quem descia a Rua A. Inclusive, havia carros na Rua A, acima da Rua B, parados diante do sinal vermelho. Assim, despreocupado, continuei meu caminho sem reduzir tanto a velociadade (que não era alta, uns 40km/h). Foi aí que, de repente, quando eu chegava à Rua B, ao som de "I will always... love you..." surge uma ciclista DO NADA, descendo a Rua A sem se preocupar se o sinal estava vermelho pra ela e verde pra mim. Ela não viu que eu fazia a conversão e BOOM! Eu me assustei tanto quando a vi que não consegui freiar. Vi aquela cara de espanto dela e esperei que ela desviasse do carro, como esses ciclistas sempre fazem - me dá uma raiva desses imprudentes e me deu raiva dela também. Mas ela não desviou. O carro bateu na bicicleta fazendo um som que eu consigo ouvir até hoje. Ela tentou se afastar, mas voôu para cima do carro, bateu com força no vidro e ele se arrebentou todo na minha frente. Freiei e ela continuou capotando por cima do carro, eu só a escutei rolando pelo teto e caindo no asfalto, lá atrás.

Fiquei desesperado sem acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, fiquei fora de mim. Desci do carro transtornado e muitas pessoas já estavam próximas à menina, acreditando que ela estava morta. Ela gemia, sangrava um pouco e sua perna esquerda estava toda quebrada e horrivelmente torta para o lado. Peguei meu celular e liguei para o serviço de emergência onde trabalho (desde que comecei a trabalhar lá, sempre me perguntava se algum dia precisaria pedir uma ambulância), mas a cena do vidro se quebrando na minha frente se repetia na minha cabeça e eu repetia "que cena horrível", de olhos arregalados, enquanto torcia minha camiseta e percebia que meus braços estavam cheios de minúsculos cacos de vidro. Dentro do carro, os Smiths entravam como se nada tivesse acontecido, com uma música feliz.

Eu não conseguia acreditar que aquele dia acabava daquele jeito e nem sabia no que prestar atenção. Lembrava do Jorge, do meu sentimento de inferioridade no evento da faculdade, olhava para a menina no chão, me concentrava na ligação do meu celular, tudo estava muito obscuro.

*** Fim de temporada. ***

3 comentários:

panda disse...

Clap, Clap ,Clap !!!!Pasmas Pro jeito como vc escreveu não pelo ocorrido!!kkk Desculpa e que eu não consigo parar de rir ao imaginar vc la pensando que ia pra cadeia tendo que dar pra todo mundo rsrsrs. Isso deve ter sido uma mensagem do tipo o "efeito xorxe" na sua vida. Algo como retome sua vida se vc não tivesse ficado la esperando o babaca isso não iria acontecer, então acontece um trem desses pra vc justamente tirar ele da cabeça... Mas ai não sabia desses detalhes que ela tinha voado pra cima do carro não. Acho que iria morrer na hora , não saberia como reagir...Talves me imaginaria na cadeia, minha cara nos noticiarios e eu la na cadeia tomando porrada e tendo que dar pras lesbica......!!!!rsrsrs E eu ainda rio.... Ai esse humor negro!!

Ingrith disse...

é, sua vida tá uma boa temporada!

Fê Guimarães disse...

Renato, que loucura! Em 18 anos de habilitação, o únco ser vivo que já atropelei foi um pombo. Acheo que seu atropelasse uma pessoa, eu piraria!

Mas vem cá, não vamos ter que esperar 5 meses pela próxima temporada não, né?